quinta-feira, 21 de novembro de 2019

CONSUMO DO LEITE EXCESSO, PODE CAUSAR CÂNCER


Leite pode aumentar o risco de câncer e não reduz a osteoporose, diz estudo
Nova pirâmide alimentar sugere moderação no consumo de leite de vaca que, apesar de nutritivo e acessível, pode causar alterações hormonais e doenças decorrentes
01/10/2015 12h51 - Atualizado em 07/10/2015 10h00
Por Guilherme Renke
Rio de Janeiro
euatleta coluna guilherme leite (Foto: Getty Images)

consumo do leite de vaca e seus derivados desempenha importante papel na mesa dos brasileiros. Ele é considerado nutritivo e um dos poucos alimentos acessíveis para a maioria da população. A maior parte da produção de leite no Brasil acontece no estado de Minas Gerais, que é responsável por mais de 40% da produção nacional. A indústria do leite no Brasil é enorme, o crescimento da produção quadruplicou desde a década de 70, e a produção anual chega a mais de 30 bilhões de litros.

O incentivo ao consumo do leite em diversas propagandas está associado a uma vida mais saudável, com a prevenção de doenças crônicas, como a osteoporose, e como um alimento essencial para as crianças. No entanto, muitos estudos científicos não corroboram essa afirmação. Alguns não relacionam a ingestão de leite e seus derivados com equilíbrio de cálcio no organismo. Além disso, ao contrário do que se pensa, outros estudos mostram que países que consumem pouco leite possuem menor incidência de osteoporose e fraturas ósseas.

Tudo começou em 2011 quando o departamento de nutrição da universidade de Harvard nos EUA limitou o consumo de leite e seus derivados na sua nova pirâmide alimentar. A notícia foi como uma “bomba“ no campo da nutrição. Uma das causas dessa limitação ao leite seria devido a existência de alguns estudos que correlacionam o consumo do leite com câncer de mama e de próstata. No entanto, essa associação não parece estar tão clara na literatura, existindo alguns estudos positivos e outros negativos. Mesmo assim, os pesquisadores de Harvard (W. Willet e D. Ludwig) optaram por limitar o consumo do leite e seus derivados.

O leite é um alimento rico em cálcio, mas a afirmativa de que ele previne osteoporose é extremamente controversa. O estudo de Hegsted et al (2001) publicado no AJCM (fator de impacto: 6.8) mostra que produtos lácteos não fazem parte da dieta da China e do Japão, e esses países possuem duas das menores taxas de osteoporose do mundo. Outro estudo de Feskanich et al (2003) publicado no AJPH (fator de impacto: 4.5) mostra que o consumo do leite parece não estar associado com prevenção de fraturas ósseas, e mostra que os maiores consumidores de leite no mundo (EUA, Canadá e Austrália) possuem, também, a maior incidência de osteoporose. O mais curioso está no fato de que isoladamente o cálcio isoladamente presente no leite não seria um determinante na prevenção da osteoporose, como mostra o estudo de Michaëlsson K et al (2014) publicado no BMJ (fator de impacto: 17.4).

Mulher bebendo leite euatleta (Foto: Getty Images)

O leite de vaca é, sim, fonte de proteínas, gordura saturada e cálcio, nutrientes importantes, principalmente para as crianças. No entanto, a afirmação de que o leite é essencial para o crescimento ósseo nas crianças é controversa. O estudo de Lanou et al. (2005) publicado no Pediatrics (fator de impacto: 5.4) avaliou 58 estudos e mostrou que não há relação entre consumo de leite, níveis de cálcio e a saúde óssea de crianças. Apesar disso, outros estudos, como o de Greer ER et al (2006) publicado na mesma revista, mostram que o consumo de alimentos ricos em cálcio são importantes para a formação óssea em crianças.

Outra grande preocupação são as possíveis alterações hormonais em crianças e adolescentes, que poderiam estar associadas com o consumo exagerado do leite e seus derivados. No entanto, o estudo de Carwile J et al (2015) publicado no AJCN mostra que parece não haver associação entre o consumo do leite e menarca precoce em adolescentes que iniciam o consumo do leite após os 9 anos de idade. 

Outra questão importante é o uso do hormônio do crescimento bovino (rBGH) nas criações. Alguns estudos, como o de Collier R et al (2014) publicado no JAS (fator de impacto: 0.1) mostram que existe o uso de hormônios do crescimento bovino (BrGH) nas criações, no entanto, não existe na literatura relação com doenças ou alterações em humanos. O que permanece ainda um fato curioso é o possível aumento da presença de acne em crianças e adolescentes como mostram os 3 estudos de Adebamowo CA et al (2005, 2006 e 2008) publicados no JAAD (fator de impacto: 4.4)

Nos último anos, vemos um aumento nos supermercados dos produtos sem lactose (lacfree). A opção faz-se apropriada para alguns indivíduos, como mostram os estudos que sugerem o aparecimento da diminuição da enzima lactase dos 4 aos 9 anos de idade humano. Os indivíduos mais intolerantes à lactose são os asiáticos (95%), os nativos americanos (90%) e os afroamericanos (75%).

Uma verdade irrevogável é que a produção leiteira gera um enorme ônus para o meio-ambiente. Além disso, defensores dos animais alegam que as vacas se tornaram verdadeiras “máquinas” de fabricar leite, com um alto nível de sofrimento físico, psicológico, vivem confinadas e alimentando-se de grandes quantidades de grãos. Por isso, muitas comunidades, como a dos veganos, filosoficamente são contra o consumo do leite.

Apesar de tudo, o leite e seus derivados ainda são um alimento fundamental para a população e largamente utilizados em todo o mundo. Seus benefícios são conhecidos, mas as suas consequências para a saúde ainda são uma dúvida. A sugestão de Harvard de consumir leite e seus derivados com moderação parece ser a melhor opção, mas novos e maiores estudos serão fundamentais para avaliar o real impacto do leite na saúde do homem.

Lembre-se que o importante é ter uma alimentação rica em nutrientes e equilibrada. Para cuidar da sua saúde consulte sempre seu médico e o seu nutricionista.

Referências bibliográficas:

1 - Hegsted DM et al. Fractures, calcium, and the modern diet. Am J Clin Nutr. 2001 Nov;74(5):571-3.

2 - Michaëlsson K et al. Milk intake and risk of mortality and fractures in women and men: cohort studies. BMJ. 2014 Oct 28;349:g6015. doi: 10.1136/bmj.g6015.

3 - Feskanich D et al. Calcium, vitamin D, milk consumption, and hip fractures: a prospective study among postmenopausal women. Am J Clin Nutr. 2003 Feb;77(2):504-11.

4 - Feskanich D et al. Milk, dietary calcium, and bone fractures in women: a 12-year prospective study. Am J Public Health. 1997 Jun;87(6):992-7.

5 - Lanou AJ et al. Calcium, dairy products, and bone health in children and young adults: a reevaluation of the evidence. Pediatrics. 2005 Mar;115(3):736-43.

6 - Bolland MJ et al. Calcium supplements with or without vitamin D and risk of cardiovascular events: reanalysis of the Women's Health Initiative limited access dataset and meta-analysis. BMJ. 2011 Apr 19;342:d2040. doi: 10.1136/bmj.d2040.

7 - Michaëlsson K et al. Milk intake and risk of mortality and fractures in women and men: cohort studies. BMJ 2014;349:g6015

8 - Pozzilli P et al. Beta-casein in cow's milk: a major antigenic determinant for type 1 diabetes? J Endocrinol Invest. 1999 Jul-Aug;22(7):562-7.

9 - Kurahashi N et al. Dairy product, saturated fatty acid, and calcium intake and prostate cancer in a prospective cohort of Japanese men. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev. 2008 Apr;17(4):930-7.

10 - Ahn J et al. Dairy products, calcium intake, and risk of prostate cancer in the prostate, lung, colorectal, and ovarian cancer screening trial. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev. 2007 Dec;16(12):2623-30.

11 - Mitrou PN et al. A prospective study of dietary calcium, dairy products and prostate cancer risk (Finland). Int J Cancer. 2007 Jun 1;120(11):2466-73.

12 - Adebamowo CA et al. High school dietary dairy intake and teenage acne. J Am Acad Dermatol. 2005 Feb;52(2):207-14.

13 - Adebamowo CA et al. Milk consumption and acne in adolescent girls. Dermatol Online J. 2006 May 30;12(4):1.

14 - Adebamowo CA et al. Milk consumption and acne in teenaged boys. J Am Acad Dermatol. 2008 May;58(5):787-93.

15 - Gao X et al. Prospective studies of dairy product and calcium intakes and prostate cancer risk: a meta-analysis. J Natl Cancer Inst. 2005 Dec 7;97(23):1768-77.

16 - Collier R et al. Update on human health concerns of recombinant bovine somatotropin use in dairy cows. Journal of American Science 2014 - Vol. 92 No. 4, p. 1800-1807.

17 - Tailford KA et al. A casein variant in cow's milk is atherogenic. Atherosclerosis. 2003 Sep;170(1):13-9.

18 - DuPuis E. Not in my body: rBGH and the rise of organic Milk. Agriculture and Human Values 17:285-295, 2000.

19 - Hirohisa I et al. Bovine milk exosomes contain microRNA and mRNA and are taken up by human macrophages. Journal of Dairy Science - Volume 98, Issue 5, Maio 2015, Páginas 2920–2933

20 - Carwile J et al. Milk Consumption after Age 9 Years Does Not Predict Age at Menarche. American Society of Nutrition July 1, 2015, doi: 10.3945/jn.115.214270

21 - Bodo C et al. Milk consumption during pregnancy increases birth weight, a risk factor for the development of diseases of civilization. Journal of Translational Medicine (2015) 13:13 DOI 10.1186/s12967-014-0377-9

22 - Greer ER et al. Optimizing bone health and calcium intakes of infants, children, and adlescents. Pedriatrics 2006 Feb; 117(2):578-85

23 - Willet W & Ludwig D. Harvard School of Public Health – The Nutrition Source. (www.hsph.harvard.edu/nutritionsource)

euatleta especialistas Guilherme Renke ESTE (Foto: EU ATLETA)

Fonte: RENKE,GUILHERME, EU ATLETA. Médico atuante na área da Cardiologia e Medicina Desportiva. Formado pela Universidade Estácio de Sá, com pós-graduação em Cardiologia pelo Instituto Nacional de Cardiologia INCL RJ, pós-graduando em Nutriendocrinologia Funcional pela Faculdade Ingá e Endocrinologia pela IPEMED. Fellow e Membro da American Academy of Anti-Aging Medicine, Membro do American College of Sports Medicine, Membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Membro do Departamento de Ergometria e Reabilitação da SBC, e da World Society of Anti-Aging Medicine. 

DIVULGAÇÃO: LUCIANO SOUSA 

FORMACAO: PREPARADOR FÍSICO/FISIOLOGISTA, UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO/RJ

ANÁLISTA DE DESEMPEDESEMPENHO NO FUTEBOL PROFISSIONAL, CBF ACADEMY 2019

ESPECIALISTA EM RECUPERAÇÃO FÍSICA E CIRURGIAS DE JOELHOS 

EMAIL:lucianofisiol@gmail.com