A
CK apresenta-se como um dímero composto por qualquer combinação entre
dois monômeros, um muscular (M) e outro cerebral (B). Cada um tem um
peso molecular de 43.000 e é codificado por um gene distinto. Os tecidos
humanos contêm três diferentes frações da CPK a saber: fração BB, MB e MM.
A
CK dos músculos esqueléticos é quase exclusivamente da fração MM
(97-99%), sendo o restante composto pela fração MB. A CK do miocárdio é
basicamente formada pela fração MM (75-80%), porém com maiores
quantidades da fração MB (15-20%). A CK cerebral é composta
exclusivamente pela fração BB.
No
soro normal, a CK total é representada principalmente pela fração MM.
Isso ocorre devido à pequena massa de miocárdio e cérebro comparada com a
massa muscular total. Além disso, a meia vida da CK-BB e da CK-MB é
relativamente curta comparada com a da CK-MM. Durante as primeiras 6
semanas de vida fetal, somente a CK-BB é sintetizada, mas ao redor da
décima segunda semana de vida embrionária, a CK-MM é predominante.
Baseada
no sexo e na raça a população geral poderia ser dividida em três grupos
gerais: (1) grupo com CK alta composto de homens negros; (2) grupo com
CK intermediária composto de mulheres negras e homens brancos e; (3)
grupo com CK baixa composto de mulheres brancas. Em geral, o grupo de
homens negros têm níveis de CK o dobro das mulheres negras e homens
brancos e os valores em mulheres brancas são a metade dos homens brancos
e mulheres negras.
A
CK é elevada no período neonatal (até 10 vezes o valor normal),
provavelmente como resultado do trauma de parto. As crianças,
principalmente meninos têm valores discretamente maiores que o dos
adultos. Durante a vida adulta, os níveis de CK aumentam discretamente
com a idade para declinar na velhice. Baixos níveis são encontrados nos
estágios precoces da gestação, em pessoas com vida sedentária e durante
períodos prolongados de repouso no leito.
Elevações
transitórias da CK, geralmente menores que 5 vezes o normal são comuns
após trauma muscular, injeções intramusculares, EMG de agulha,
procedimentos cirúrgicos, ou exercício físico moderado a severo. A EMG
de agulha pode resultar em aumento dos níveis sericos de CK que são
maiores com agulha concêntrica que com agulha monopolar. Os níveis
retornam ao normal aproximadamente após 2 a 3 dias após o exame.
Convulsões, psicose aguda e comportamento violento também podem resultar
em elevações da CK.
Abaixo resumimos as causas de elevação transitória de CK na ausência de doença neuromuscular:
O
tempo da coleta do sangue após o exercício é importante. Em geral,
elevações maiores são detectadas mais precocemente e por mais tempo. Os
valores de CK sérica geralmente iniciam a aumentar em poucas horas após o
exercício, atingindo um pico em 1 a 4 dias e começam a diminuir em 3 a 8
dias. Treinamento freqüente ou diário, principalmente nos atletas de
levantamento de peso, podem resultar em elevações persistentes da CK,
simulando doença neuromuscular. Atletas com CK elevada e suspeita de
doença neuromuscular deveriam interromper o treinamento por 7 a 10 dias
antes de uma nova medida ser obtida.
A
maior parte da CK liberada após exercício físico pertence à fração MM.
Entretanto, a CK-MB pode estar elevada após exercício prolongado e
extenuante, como na maratona, chegando a 8 a 18% da concentração total,
sem nenhuma evidência de isquemia cardíaca. A fonte de CK-MB parece ser
as fibras musculares em regeneração, que semelhantemente a muitos
mioblastos fetais, expressam maiores quantidades de CK-MB que as células
musculares maduras.
A
causa exata do aumento da CK após o exercício é desconhecida. As
hipóteses incluem hipóxia tecidual, depleção de glicogênio muscular,
peroxidação lipídica e acúmulo de radicais livres. O dano mecânico
direto aos elementos contráteis, especialmente o disco Z do sarcômero,
explica as diferentes elevações de CK entre exercícios equivalentes de
levantamento de peso e não levantamento de peso.
Elevações
da CK-MB semelhantes às vistas no infarto do miocárdio podem ocorrem em
doenças neuromusculares, como rabdomiólise, esmagamento, hipertermia
maligna, distrofia muscular de Duchenne, dermatomiosite e polimiosite
severas, assim como em corredores de maratona e atletas profissionais. A
origem da elevação da CK-MB nestes atletas é esquelética e não
cardíaca, como foi previamente pensado. Além de se basear na história e
no exame físico, pistas para estabelecer que o aumento da CK-MB é
proveniente dos músculos esqueléticos em vez do cardíaco incluem um ou
mais dos seguintes critérios: (1) percentagens de CK-MB menores que 5%
não são compatíveis com IAM; (2) elevações importantes da CK-total de
mais que 20-30 vezes os valores normais não são compatíveis com infarto;
(3) um curso temporal atípico de elevação da CK-MB (prolongado),
deveria levantar suspeita contra o diagnóstico de IAM.
Embora
as medidas seriadas da CK total e da CK-MB tenham sido usadas como os
principais marcadores para o diagnóstico do IAM, essa prática está
mudando para incluir substâncias de liberação mais rápida como a mioglobina e marcadores cardíaco-específicos como a troponina T e a troponina I.
Os
níveis de mioglobina sérica, os quais não são cardíaco-específicos,
atingem o pico sérico muito precocemente (entre 1 a 4 horas) após o
infarto do miocárdio. A troponina I e T, as quais regulam o processo de
contração mediado pelo cálcio, estão presentes nos músculos cardíaco e
esqueléticos, embora elas tenham diferentes seqüências de aminoácidos e
sejam codificadas por diferentes genes. As frações cardíacas de
troponina, particularmente a troponina I, são altamente específicas e
não estão presentes no músculo esquelético. Como as concentrações de
troponina I em indivíduos normais é quase zero, sua sensibilidade é
maior que da CK-MB, permitindo a detecção de pequenos graus de necrose
do miocárdio.
Após
o IAM, a troponina I começa a aumentar em 3 horas, atinge um pico em 24
horas e persiste elevada por 7 a 10 dias. Portanto, além de ser
altamente sensível e especifica, a troponina I também é útil para
detectar infarto do miocárdio na fase subaguda.
As
elevações da CK são geralmente associadas com miopatias, sendo menos
comumente associadas com doenças neurogênicas e eventualmente podem
ocorrer em indivíduos assintomáticos.
A hiperCKemia idiopática,
um termo criado por Rowland e cols, é definida como a elevação
persistente da CK sérica com origem nos músculos esqueléticos, sem
manifestações clínicas ou fraqueza muscular e ausência de anormalidades
nos exames neurológico, eletrodiagnóstico e patológico (biópsia
muscular).
A
hiperCKemia idiopática pode ocorrer em qualquer idade, mas existe uma
predominância masculina. As elevações são modestas, geralmente entre 3 e
10 vezes acima do valor normal. Nenhum paciente têm fraqueza, porém
alguns relatam mialgia, rigidez ou câimbras. Estudos de seguimento
destes pacientes revelaram que até 1/3 dos pacientes evoluem com alguma
doença neuromuscular como miopatia distal, miosite por corpos de
inclusão, polimiosite, deficiência de mioadenilato-deaminase, doença de
McArdle, miopatia do core central, hipertermia maligna e estado de
portador da distrofia muscular de Duchenne.
Alguns critérios específicos são necessários antes do diagnóstico de hiperCKemia ser feito:
Critérios de Inclusão:
Pacientes
assintomáticos com hiperCKemia deveriam primeiramente submeter-se à
cuidadoso exame neurológico e ter uma avaliação detalhada de suas
histórias familiares. Estudos adicionais como EMG, biópsia muscular ou
testes de DNA para doenças neuromusculares deveriam ser considerados,
particularmente em pacientes com elevações maiores que 5 a 10 vezes o
normal. Todos os pacientes com hiperCKemia “idiopática” deveriam receber
constante acompanhamento, pois um número significativo deles irá
demonstrar claros achados de doença neuromuscular no futuro.
postado: luciano sousa email:lucianofisiol@gmail.com facebook:lucianosousa lucianosousa |
domingo, 8 de julho de 2012
Creatinofosfoquinase (CPK)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário