Saúde & Performance - Modalidades Esportivas
NUTRIÇÃO
NO FUTEBOL II
O futebol é o esporte mais popular do
mundo e vem crescendo a cada dia, até mesmo
em regiões onde há pouco ele era
quase desconhecido. É um esporte que implica
na prática de exercícios intermitentes,
de intensidade variável. Basicamente 80
a 90% do exercício é de atividades
aeróbias e o restante de atividades anaeróbias
de alta intensidade. O sprint representa 12% das
atividades, as corridas de baixa intensidade representam
35% e as de alta intensidade de 8 a 18% do tempo
total de uma partida. Normalmente os jogadores
da primeira divisão tem períodos
maiores de atividades de alta intensidade se comparados
aos jogadores de outras divisões. Pode-se
dizer que os jogadores de futebol apresentam características
fisiológicas diferentes entre si.
Nutrição
A alimentação, o treinamento e
o estado de saúde são aspectos fundamentais
para um bom desempenho no esporte. A demanda energética
nos treinamentos e nas competições
requer que seus participantes consumam uma dieta
adequada, particularmente rica em carboidratos,
já que esse nutriente é uma das
principais fontes de energia durante o exercício.
Tanto para a manutenção quanto
para o aumento dos estoques de glicogênio
durante o treinamento é necessário
uma dieta hiperglicídica. A depleção
de glicogênio pode ocorrer gradualmente
após repetidos dias de treinamento intenso,
quando a degradação de glicogênio
muscular excede sua reposição.
A fadiga durante o jogo está associada
à depleção dos estoques de
glicogênio muscular. Isto pode ser comprovado
devido às baixas concentrações
de glicogênio muscular observadas no final
de um jogo e uso maior deste substrato no primeiro
tempo comparado ao segundo. Jogadores de futebol,
com concentrações de glicogênio
diminuído na segunda metade do jogo, apresentam
valores médios de velocidade e distância
percorridas menores do que outros jogadores que
iniciam o jogo com níveis adequados. É
comum ocorrer essa situação em jogadores
com hábitos alimentares inadequados.
As necessidades energéticas de jogadores
de futebol dependem da função tática
do jogador na equipe, da distância percorrida
e do estilo de jogo. O treinamento regular exige
demandas nutricionais extras e o gasto energético
é aumentado na proporção
em que o exercício é realizado.
A quantidade e a qualidade dos treinamentos são
dois fatores que influenciam o gasto energético
diário. Os jogadores de futebol são
considerados atletas que treinam em intensidade,
de moderada a alta, e têm suas necessidades
energéticas em torno de 3150 a 4300kcal.
Carboidratos
O carboidrato é a fonte de energia mais
importante na dieta de um jogador de futebol,
e quantidades adequadas desse nutriente são
essenciais para o desempenho atlético.
Os carboidratos são estocados no fígado
e músculos na forma de glicogênio,
e suas principais funções são:
prover fonte primária de energia para os
músculos em exercício e para o cérebro
e ajudar no metabolismo lipídico de forma
eficiente.
O consumo diário de carboidrato na dieta
de um jogador de futebol deve ser o equivalente
a 60 a 70% do valor energético total, ou
mais especificamente, de 6 a 10g/kg de peso corporal/dia.
A quantidade de carboidrato na dieta é
também importante para recuperação
dos estoques de glicogênio muscular após
treinos e jogos.
Tabela 1. Efeito da ingestão de carboidrato para jogadores de futebol
Tempo
de ingestão de CHO
|
Efeitos
benéficos
|
4 horas antes do jogo |
Aumento de 15% no desempenho físico |
10 minutos antes da partida | Diminuição da utilização de glicogênio e aumento da distância e da velocidade de corrida em 30% |
O consumo de carboidratos após o término do exercício deve ser o mais rápido possível para acelerar a reposição dos estoques de glicogênio.
Nesse período o consumo recomendado de
carboidrato para uma ressíntese mais adequada
em 24 horas é de 7 a 10g de carboidrato/kg
de peso corporal/dia. O ideal é que se
consuma alimentos de alto índice glicêmico,
como pão, batata, arroz, massa, banana
e mel, que promovem ressíntese mais eficaz.
Proteínas e aminoácidos
As necessidades protéicas de um atleta
são maiores do que as de um indivíduo
sedentário em função da maior
necessidade de reparo das lesões nas fibras
musculares induzidas pelo exercício. Outras
questões que aumentam as necessidades protéicas
desses atletas é o uso de pequena quantidade
de proteína como fonte de energia durante
a atividade e o estímulo ao ganho de massa
magra.
A proteína contribui para o pool energético
durante o repouso e o exercício, sendo
que durante a atividade sua oxidação
contribui com cerca de 5 a 10% do fornecimento
total de energia. Assim, os aminoácidos
servem como fonte auxiliar de combustível
durante exercícios intensos e de longa
duração e após sua oxidação,
são irreversivelmente perdidos. Caso não
sejam repostos, via alimentação,
haverá comprometimento do processo normal
de síntese protéica. Isso pode levar
à perda da força muscular, diminuindo
então, o desempenho durante uma partida
de futebol.
A ingestão de 1,4 a 1,7g de proteína/kg
de peso corporal/dia para jogadores de futebol
é considerada a mais adequada.
Gorduras
Juntamente com o carboidrato, a gordura é
a principal fonte de energia durante o exercício.
O objetivo da utilização de gordura
durante o exercício é poupar o uso
do glicogênio muscular.
O consumo elevado de gordura na dieta dos atletas
de futebol é um problema muito comum, tornando
mais difícil o consumo das quantidades
recomendadas de carboidrato. Entretanto, uma redução
muito severa no consumo de lipídios não
é indicado, já que esse nutriente
participa do metabolismo da produção
de energia, do transporte de vitaminas lipossolúveis
e são componentes das membranas celulares.
O consumo de lipídios na dieta de um jogador
de futebol não deve ser maior do que 30%
do valor energético total diário.
Tabela 2. Recomendações de macronutrientes
para jogadores de futebol
MACRONUTRIENTES | RECOMENDAÇÃO |
Carboidrato | No mínimo 8g/kg de peso corporal |
Proteína | 1,4 a 1,7g/kg de peso corporal |
Lipídio | Máximo 30% do valor energético total |
Tabela 3. Principais recomendações na dieta pré e pós-competição do jogador de futebol:
PERÍODO | RECOMENDAÇÕES |
Dieta pré-competição |
· Grandes refeições
– 3 a 4 horas antes do jogo;·
Pequenas refeições 1-2 horas
antes do jogo;
· Incluir alimentos que sejam habituais
na dieta dos jogadores e também importantes
no lado psicológico e supersticioso;·
A refeição não deve
ter um conteúdo elevado de gordura
e de fibra alimentar;·
2g de CHO/kg de peso corporal nas refeições
2 horas antes do jogo·
5g de CHO/kg de peso corporal nas refeições
4 hs antes do jogo.
|
Dieta pós-competição |
· Os alimentos devem ser consumidos
logo após o término do jogo;·
Oferecer alimentos ricos em CHO de índice
glicêmico alto;·
1-1,5g de CHO/kg de peso corporal imediatamente
após o exercício;·
7-10g de CHO/kg de peso corporal imediatamente
após o exercício.
|
Reposição hidroeletrolítica
A hidratação é um fator
importante que deve ser considerado antes, durante
e depois de treinos e partidas. Antes e durante
a prática a hidratação parece
melhorar o desempenho; líquidos que contêm
carboidrato são mais eficientes durante
a atividade.
Algumas limitações no desempenho do atleta de futebol são: 1)o estado crônico de desidratação e 2) o estresse térmico durante uma partida.
Algumas limitações no desempenho do atleta de futebol são: 1)o estado crônico de desidratação e 2) o estresse térmico durante uma partida.
Segundo estudos, o desempenho durantes os jogos
pode ser diminuído em até 30%, com
perda de até 6% do peso corporal. Nesse
caso talvez não seja possível a
recuperação das reservas hídrica
até 72horas depois do jogo. O atleta de
futebol pode perder até 2 litros ou mais
de suor a cada hora.
A oferta de líquidos é muito importante,
já que o futebol é um esporte com
poucos intervalos regulares que permitam a hidratação
correta, e a ingestão de líquidos
também é limitada pelo tempo de
esvaziamento gástrico já diminuído
devido a alta intensidade.
A bebida hidroeletrolítica adequada deve
ter as seguintes características: permitir
que os fluídos cheguem rapidamente aos
tecidos; fornecer carboidratos durante o exercício;
fornecer baixos níveis de eletrólitos;
ser palatável e refrescante e não
causar distúrbios gastrointestinais. Essas
bebidas após o término do jogo ou
treinamento ajudam não só na hidratação,
mas também na recuperação
do glicogênio muscular.
Vitaminas e Minerais
As vitaminas e os minerais são importantes
no metabolismo energético, estresse oxidativo,
contração muscular, regulação
do balanço hídrico e nas funções
estruturais.
É de se esperar que a deficiência
de um ou mais desses micronutrientes possa trazer
algum prejuízo em relação
ao desempenho de jogadores de futebol. Porém,
a ingestão de uma ampla variedade de alimentos,
em especial frutas e hortaliças, assegura
para o organismo um adequado fornecimento de micronutrientes.
Jogadores de futebol correm potencial risco de
ingestão inadequada de vitaminas e minerais
pelo fato de se exercitarem por muito tempo sob
alta intensidade e, também, pelo fato de
viajarem bastante e dependerem de cardápios
de restaurantes locais. Além disso, pessoas
fisicamente ativas perdem minerais pelo suor excessivo,
pelas fezes e pela urina. Muitas vezes, atletas
de futebol dispensam o consumo de verduras e vegetais
e correm maior risco de deficiência.
Portanto, deve-se ter atenção especial
em relação ao consumo de frutas
e hortaliças na dieta de um jogador para
assegurar ingestão adequada desses nutrientes
e assim, não comprometer seu desempenho.
Referências:
BARROS NETO, T.; GUERRA, Isabela, Ciência
do Futebol, Barueri, SP, ed Manole, 2004.
BIESEK, S. Alves; GUERRA, Isabela, Estratégias
de Nutrição e Suplementação
no Esporte. Barueri, SP: ed. Manole, 2005.
GUERRA, I.P.L.R.; BARROS NETO, T.; TIRAPEGUI,
J.Necessidades dietéticas de jogadores
de futebol:uma revisão, Nutrire: ver. Soc.
Brás. Alim. Nutr, São Paulo, SP,
v. 28, p. 79-90, dez. 2004.
GUERRA, I.P.L.R; SOARES, Eliane de Abreu; BURINI,
Roberto Carlos, Aspectos Nutricionais do Futebol
de Competição, Rer. Bras. Med Esporte,
São Paulo, SP, v. 7, nº 6, nov/dez.
2001.
Diferentes Substratos Energéticos Usados Durante a Atividade Física Saúde & Performance - Fisiologia
A nutrição esportiva, apesar de ainda
ser muito recente como ciência, tem se tornado
cada dia mais independente como área de atuação
do profissional nutricionista. O tema em questão,
não se resume apenas na utilização
do carboidrato como principal fonte de energia ou
a oxidação dos ácidos graxos
nos exercícios de baixa intensidade. Podemos
ser cada vez mais específicos às necessidades
de desempenho e composição corporal
do esportista e do atleta. Quando falamos em esportista,
nos referimos também ao indivíduo
praticante de atividade física, uma vez que
é comum a atuação do nutricionista
em academias e consultórios com este perfil
de clientela, em busca de emagrecimento e qualidade
de vida, e ainda de atletas com fins competitivos
e objetivos de performance e melhora da composição
corporal.
A base da nutrição
e fisiologia aplicada ao exercício será
igual para ambos, porém o cuidados poderão
ser mais direcionados quando problemas comuns são
encontrados nestes diferentes grupos.
O fornecimento de energia acontece
quando há uma demanda (solicitação)
do músculo em contração. A
energia do alimento não vem pronta para utilização,
este passará por um processo de degradação
através da digestão e posteriormente
serão armazenados em formas mais compactas.
Os carboidratos, que são quebrados em moléculas
de glicose, serão armazenados no músculo
e fígado em forma de glicogênio. A
gordura é degradada em ácido graxo
e glicerol e armazenadas em forma de triglicérides,
e os depósitos de proteínas encontram-se
sob a forma de aminoácidos.
O substrato energético utilizado
durante o exercício dependerá do tipo,
intensidade e duração da atividade
física. Dependendo da modalidade esportiva
em questão basicamente três sistemas
de fornecimento de energia estarão atuando
para o desempenho do indivíduo: ATP-CP; Sistema
anaeróbio; Sistema aeróbio.
Quando o indivíduo passa
de um estágio de repouso e dá início
ao exercício, o primeiro sistema de fornecimento
imediato de energia é ativado para fornecer
energia rápida ao músculo em atividade
à Sistema ATP-CP. A atividade pode durar
segundos como provas de curta duração
e alta intensidade, como corrida de 100 metros,
provas de natação de 25 metros, levantamento
de peso, sprints no futebol ou uma cortada no volley.
Esta energia é proporcionada
pelos fosfatos de alta energia (ATP e CP) armazenados
dentro do músculos específicos em
atividade, portanto a sua liberação
acontece mais prontamente. O ATP é a principal
fonte de energia para todos os processos do organismo,
porém esta fonte de energia é limitada
e deve ser continuamente reciclada dentro da célula.
Esta ressíntese acontece a partir dos nutrientes
e do composto Creatina Fosfato (CP). Os estoques
de creatina fosfato são resistetizados pelo
músculo a partir de três aminoácidos:
glicina, arginina e metionina (s-adenosil metionina).
Pode ser encontrada tanto na forma livre como creatina
l ou fosforilada denominada fosfocreatina.
A medida que o exercício
continua, a via glicolítica - liberação
de energia a partir dos carboidratos - é
ativada. Existem dois estágios para a degradação
da glicose no organismo. O primeiro é a decomposição
de glicose para duas moléculas de ácido
pirúvico e este é convertido em ácido
latico. Estas reações envolvem transferências
de energia que não necessitam de oxigênio
- denominadas anaeróbias. Ocorrem durante
exercícios de alta intensidade (Intensidade
de exercício acima de 75% do Vo2 max), e
média duração (alguns minutos)
como lutas, musculação, resistência
localizada e de velocidade. De forma prática
o conhecimento da intensidade do exercício
será relatada pela freqüência
cardíaca durante a sessão de treinamento.
Por exemplo, uma aula de aeróbica em academia
pode ser de alta intensidade para um aluno e baixa
para outro melhor condicionado. No caso de intensidades
altas, o principal substrato utilizado será
o carboidrato, pela grande liberação
de glicose durante a atividade. O tempo de exercício
será limitado pela oferta de glicogênio
disponível. Neste caso, suplementação
com carboidratos durante é benéfica,
podendo prolongar o tempo de atividade.
Se o indivíduo mantém
a intensidade do exercício moderada ou baixa
com uma freqüência cardíaca abaixo
do limiar (onde a demanda de ácido lático
é pequena), o ácido pirúvico
é convertido num componente chamado acetil
CoA, que entrará no ciclo de Krebs, iniciando
o sistema de fornecimento de energia aerobia, como
em atividades de resistência, maratonas, ciclismo,
caminhadas e natação.
Neste momento, a gordura também
contribuirá para as necessidades energéticas
do músculo. O ácido graxo livre entra
na célula muscular sofre uma transformação
enzimática chamada ß oxidação,
e transformado em Acetil CoA, que entrará
no ciclo de Krebs. Este processo é denominado
lipólise.
Os depósitos de glicogênio
hepático e muscular são capazes de
fornecer apenas 1.200 a 2.000 cal de energia, enquanto
a gordura armazenada nas fibras musculares e células
de gordura podem fornecer cerca de 70.000 a 75.000
cal. Portanto, quando ocorre a utilização
de ácidos graxos, o tempo de atividade tende
a ser prolongado.
Proporcionalmente, haverá
maior utilização da gordura, entretanto,
o carboidrato é necessário para dar
início ao ciclo.
Os exercícios aeróbicos,
além dos benefícios cardiovasculares,
potencializam a capacidade do músculo em
utilizar a gordura como substrato energético,
sendo uma forma de preservar o glicogênio
muscular.
A ingestão de gorduras não
estimula o músculo a utilizar os ácidos
graxos livres. Os fatores estimulantes para a lipólise
são o exercício, a presença
de oxigênio e um alto nível de catabolismo
dos carboidratos.
Os carboidratos e gorduras serão
os combustíveis preferenciais. Porém,
as proteínas (formadas por aminoácidos),
são transformadas nos intermediários
do metabolismo como piruvato ou Acetyl CoA. para
entrar no processo de fornecimento de energia. A
energia total proveniente deste metabolismo protéico
pode variar de 5 a 10%. Em casos de déficit
de carboidratos, a demanda de proteína para
atender as necessidades do músculo aumenta.
Entretanto, sabe-se que durante
atividade há um rompimento das fibras musculares
provocada pela contração, havendo
como conseqüência a necessidade do aumento
do consumo de proteínas na dieta para recuperação
da integridade muscular.
FONTE: SAÚDE & PERFORMANCE-2012
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